quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Foste embora, mas estás aqui

Partiste, apenas por umas meras centenas de quilômetros, mas estás aqui. Esqueço o telemóvel, por onde me é possível falar-te, mas ele toca e grita por ti. Não esqueci.
Ainda durmo com a tua almofada ao meu lado, ainda que não a vás ocupar em breve. Ainda não te perdi o cheiro de todas as tardes de verão que ocupaste, que preencheste.
Mudei o quarto: a cama, a secretária, o guarda roupa, o mesa de cabeceira. Nada mudou, respiras bruscamente pelas paredes e remetes àquilo que vivemos.


Chego até a sentir-me meio estupido porque me inibes a fala, roubas-me a expressão, a sanidade e desdenhas tudo o que calmo me torna.


Às vezes até que te odeio. Odeio-te por não me completares, mas por me transbordares.
Odeio-te de tanto te amar e sabe tão bem como mal recordar-te nas horas vazias.


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Deixa as metades, faz o que quiseres, MAS AMA

Abandona tudo o que não queres, todas as metades que não desejas.
Ama na íntegra e grita o mundo pelo peito fora. Sai à rua e refaz de maneira diferente. Grita e desdenha, mas ama.
Percute tudo o que guardas dentro de ti e pede a eternidade a quem tenha o mundo para te oferecer, mas ama.
Ama quem partilha as tristezas do mundo, ama quem te faça sentir a única nos 7 bilhões, ama quem seja o chá na constipação de Inverno, ama quem seja a tarde de piscina no calor exuberante de um Verão, ama quem seja o filme, as pipocas, o chocolate quente da tarde mais triste da tua vida, ama quem seja a guloseima irresistível da dieta que começaste no dia anterior, ama hiperbolicamente até que doa. Ama, ama não-metades, ama tudo, com tudo, ama até te sentires embeber na saudade, sequencialmente, incondicionalmente. Ama, comete o erro de ambicionar cegamente.

Ama sem te limitares e assustares. Faz como entenderes, MAS AMA, porque mesmo que um dia acabe na solidão obscura do mundo, sentiste o que meio universo não soube provar.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Veneras em repouso

Percute-me e abandonas o real em sossego. Respiro e pouso. Relembro o sabor insípido de tudo o que beijamos. Relembro o fictício punhal gélido que te coloca em movimento e peço que expurgues o irrevogável traçado na resposta palavreada em que te embalo.
Desdenho e reponho em claro branco e desalmo-me no testemunho em que dificilmente te pronuncias.
Cubro o que de intocável me é e chegas-me sobre eloquência do sensível e restas de um modo que me surpreende.
Pouco me é o que constitui para te conter e vives em inquieto que estronda ao sentir do mundo que morrerá por descobrir. Permito-me reclamar-te de todo o feitio e respiras à beira do que não deteto, do incapaz de influenciar e do que me foge ao toque das mãos. É-me perpétuo a necessidade de conter enquanto ficas, enquanto veneras em repouso.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

À alma não lhe convém o sentido

À alma não lhe convém o passível de ser sentido. Repara e pára, gélida e em sossego. Repensa e respira. Desentranha absolutamente a adrenalina que me corre as veias de todas as formas possíveis de o fazer. Desdenha e repercute-me tudo o que não te é possível transmitir. Pele incapaz de, espiritualmente, me possuir. É estrondo violento que me recorre o passível de ser suportado e decorres no fluxo natural do silêncio que me conduz à introspecção irreparável da suficiência.
Abandonas euforia quando tudo à calma se assemelha e ao pânico que também vem, a calma incapaz és de refutar.
Tenho sentido a decadência que bate à porta no alimento fraco que mascara a impossibilidade pura e diária do enegrecido na podridão virtual da nossa sede.
O universo reduz-me ao segredo complexo do que nunca possuí, testemunho o ínfimo que teima em permanecer-te e que pouco cataboliza no grito que à alma me reclama.
À alma, ao sentido que pouco lhe convém.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Demasiado intimo para se transmitir

É eloquente. Respira, fala, ri e retira-me todo o chão em que me sustenho.
Relembra-me extravagância que me totaliza a adrenalina e diverge do que esperei suportar. Fito-te exigir pelo permanecer mais próprio de ser. Fito-te relatar tudo o que meus ouvidos sedem para ouvir. Espero. Espero e embebo-me na decadência prematura que nunca te viu chegar. Embebo-me na expiração ofegante que te resgata na presença da minha própria palpitação cardíaca.
Fazes com que todas as palavras fujam de mim, palavras demasiado intimas para se transmitirem.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Pressa repentina de ti

Respiro. Vivo-te na pressa constante do desejar. Vivo-te na inquietação sóbria que o absoluto desejo me permite. Expulso-te pelas palavras. E sobrevives. Sobrevives na esperança de me sobressaltar o ser. E contento-me. Contento-me com a ínfima ideia de te ver chegar.
Quero-te. Quero-te na estupidez irredutível do mundo e no Fado que outrora erradamente nos vincou. Quero-te pelo corpo diáfano à frieza inverosímil do mundo que finjo tocar com todas as palavras insolentes que me são permitidas.
Viveria sem ti. Mas pelo sim, pelo não, vai permanecendo. Vai alimentando a pressa repentina do querer-te que me consome algures onde te fito na introspecção que te aviva à alma.

terça-feira, 17 de março de 2015

À insónia repleta de ti.

O monstro percorre à queima roupa e retira-me do sono profundo. Acordo, palpito por ti no vazio que me preenche os lençóis e sinto-te na saudade infinita que me incorpora. Escapas-me pelos dedos e perco-te pela luz do dia. Perco-te em aflito chamamento pela tua necessidade, que procura tornar consciente na pele que te reveste.
Reveste-me, cala-me e vai ficando por mim. Fica-me, enquanto te grito o peito ao mundo no desdenhar suave dos cabelos e dos lábios. Aproxima-te e permite-me o tocar.
Desequilibro-me no chão que me foge e fito-te infimamente na vontade de beijar que te entrelaça e respiro do próprio desejo, do que me consome na insónia repleta de vestígios, das lembranças que me deixas e que não somem.

Vincos de lembrança

Invoco espírito foragido que insiste no relembrar-te. Espírito cantante que me soa a ti. Espírito que invade abismo atordoado de sede.
Sede.
Sede, de um pouco de ti e de te ver permanecer. Espírito errante que em ti desvenda ponto fixo inverosímil, mas que oferece esperança ao desejo.
Procuro-te, preciso-te na fragilidade nua da alma. Sou um todo insuficiente para toda esta capacidade de te possuir. Mas vou tentando. Vou procurando por ti na vida que me recusa a estabilidade e vou relembrando aquilo que nunca marcaste, no sentir ambíguo que não me deixaste e no paradoxo do todo que me abandonaste, que me leva de volta para ti.

"Rendo-me-te"

Acabo por me render. A esperança cessa-me no poder estapafúrdico do querer. Sinto-te na introspecção sádica à pele que me gela de arrepio. Alimento-me do pairar nostálgico que se faz pesar na consciência que te tenta trazer.
Indigno por ti entre a mistura divergente da solidão com o beijar, queimo do peito à voz e canto-te o tocar.
"Mas, fui feito para me ter para ti.", responde-lhe, na esperança redutível de lhe imaginar o tocar da pele na mais gélida noite do ano.

A alma cede. Cedo-me de espírito na incorporação fatal de te procurar num além desvanecido todas as manhãs. Cedo-me no querer absoluto de te beijar com todas as palavras inimagináveis do mundo.
Sou-te transparente na fragilidade nociva do universo, sou pedir querer-te forasteiro à tua capacidade de me sentir.
E acabo, sempre e desalmadamente, por me deixar render na chamada repentina que te grita para mim.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Querer o que não se pode ter

Fico, apenas agora, ciente do que o real me proporciona.
Escrevo pela tristeza ou pela falta do feliz? Escrevo pela solidão ou pela falta de amor?
Porque escrevo bem melhor quando estás por perto. Preenches-me e preenches as palavras.
Não me esvazies. Não me deixes as palavras por respirar e faz delas o teu quarto, onde se pincelam entre quatro paredes que não as solta.
Escrevo por te querer ou pela tua falta? Preciso que regresses, mesmo que nunca tivesses estado realmente aqui, do teu relembrar do que é desejar, embora não te possa conter. Estou ciente.
Estou ciente de que te quero de peito aberto sem o poder habitar verdadeiramente, de que ficarei como palavras cansadas sem qualquer efeito.
És-me como música aos ouvidos. És-me corpo e alma num corpo outrora preenchido, embora ciente, de que te quero e não posso ter.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Tenho esperado por ti

Tenho esperado por ti. Alma com amor. Amor com alma. Tenho esperado por ti.
Vem e reduz-me àquilo em que te queres conter. Vem e reduz-me ao do que o teu mundo é feito.

"Dói viver na incapacidade de não revelar a quem escrevo."

Sinto-me receio ardente dos pés à cabeça de não te possuir nas palavras. Ou de não me possuíres nas tuas.
Quero-te por esperar-te e pela impossibilidade de poder ter. Quero-te por todas as razões que me justifiquem não querer.
Vejo-te chegar, mas acabas por partir de novo, abandonando-me na solidão mais inverosímil da consciência humana. Repeles-me de forma constante e fria como se ninguém no mundo te conseguisse decifrar. E talvez seja verdade, talvez ninguém consiga.
Viverei pedindo que me deixes tentar. Que me deixes ler, perceber, que me permitas viver e chorar cada palavra tua.
Continua. Continuo na esperança desalmada de não contar a quem escrevo, de não te conter as palavras na alma e o espírito que desejo desdenhar nos braços.
Quero-te, quero-te para não me fugires na certeza pouco certa de cada palavra minha que te gera entrega.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Que permaneças

Tenho tanto para viver. E o dia acaba numa solidão imensa que me preenche o quarto. Solidão que luta num passo acelerado para desvanecer. Porém, encontra porto de abrigo que a faz respirar. E permanece. Permanece enquanto te sinto a falta num peito que nada de arrítmico tem. Permanece enquanto sinto a falta de tudo aquilo que também faltou antes.

Cala-te, cala-me. Silêncio.

Adormeço na esperança pouco credível de não te fitar pela manhã. Na manhã seguinte acordo na esperança de não te fitar na próxima.

Quero-te. Quero-te com toda a companhia que a minha solidão tem para te oferecer.

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