sábado, 15 de outubro de 2016

Cansaste-te de jogar

Uma mão cheia de nada é o que fica de quando se espera por algo que decidiu nunca mais ficar.
Nunca te tomei como garantida mas nunca esperei que fosses embora, metia as minhas mãos no fogo por ti.
Sobrestimei tudo o que passei a teu lado. Era bom demais para ser verdade, parecia ridiculamente insubstituível, tão real, tão puro que a eternidade sabia a pouco quando te encontrava nos meus braços.

Amor, lembras-te? Pelos vistos ganhei...saí vencedor de todos os jogos cheios de promessas em que tentaste enfrentar-me..."Amo-te mais", "Sinto mais a tua falta", "Nunca te vou esquecer", "Eu só quero estar contigo"...amor, eu ganhei os jogos todos. E joguei tão dedicadamente que até o "Não consigo viver sem ti" estive perto de ganhar. E hoje arrependo-me de ter sido o teu melhor jogador do mundo. Fui um vencedor que saiu tão derrotado...acabou, és o adversário que se limitou simplesmente a desistir quando o jogo se complicou um bocadinho.
Mas, como se ouve tanta vez após um grande desgosto de amor, "a vida continua". Há mais jogo. Existem tantos jogadores por aí. E vou, de certeza, ganhar de novo. E talvez perca algumas vezes até encontrar quem empate comigo todos os dias, que me devolva incondicionalmente o que eu entreguei para jogar, alguém que me ceda a vitória e que partilhe um pouco da derrota, alguém que fique, alguém que ame arriscar e viver o jogo, alguém que se torne no adversário da minha vida.

Pergunto-me todos os dias por ti. E encontro meramente a resposta de que não estás onde prometeste permanecer sempre, de que abandonaste o jogo que me dava de respirar, que me ensinou e reensinou a andar e a correr.
Perdeste e eu amava demasiado o jogo, amava demasiado o adversário, amava-te a ti.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Eu sei, são só 26 anos

A vida ainda é uma criança aos 26 anos.
Amigo, eu sei que chorarias se pudesses ver o que o destino guardou para ti. Sei que no corpo não te caberia o desgosto de viver assim, que gritarias pelo peito o desespero tão grande de viver preso e necessitar que cuidem constantemente de ti.
Guerreiro, eu sei que gritarias, que chorarias...e não te tiraria nem um bocadinho de razão, porque com 26 anos não é suposto viver assim.
Com 26 anos é suposto transbordar saúde, conquistar o mundo, rir até te doer a face, sair à noite com os colegas de trabalho. Com 26 anos é suposto estares com o amor da tua vida, casar, ter filhos, planear envelhecer ao lado da pessoa que te completa e faz feliz todos os dias, viajar para qualquer lado, abraçar o que vida te dá todos os dias. Viver. É essa a palavra: viver. Com 26 anos é suposto viver como se não houvesse amanhã.
Amigo, eu sei que chorarias, porque a energia e essa sede para viver que te habita nunca aceitariam isto, não desta maneira. E por isso peço que a vontade não te fuja, que a energia não se acabe e que proves que ainda lutas por toda a vida que aos 26 anos deverias ter.
Amigo, eu sei que o medo te sufocaria, que implorarias por tudo o que te tem sido retirado. O destino deve-te tanto, mas tanto.
Estamos à tua espera, para te devolver tudo aquilo a que tens direito...viver.
Parabéns

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

5 anos, mas foi ontem

Ainda não acredito. Não há espaço para que tanta saudade me habite.
Sinto-te na falta do que estes cinco anos não te devolveram, sinto-te na realidade obscura que todos os dias tenta tirar um pouco de ti e que ao longo de cinco lentos e desgastantes anos ainda não te roubou a luz. Porque ainda brilhas, guerreiro.

1 de Setembro de 2011. Pouco depois da meia-noite. "O Gonçalo teve um acidente". A dita noticia percorreu-me o corpo como uma besta furiosa, como se enfraquecesse a luz do dia e desacelerasse o sangue que nas veias me corre.

O mundo caiu-te em cima, o chão fugiu-me e eu corri para lado nenhum. Cinco anos que te abrigam numa realidade fria e estupidamente cruel que se reduz a pedidos de ajuda e a gritos de desespero. 
Que melancolia atroz que se manifesta no quarto onde adormeço, tantas memórias que se fazem lembrar no silêncio ensurdecedor da noite, no assobio arrepiante do vento que, por tudo, sabe a pouco. Sinto-te na pele o frio torturante daquela noite, a forma desastrosa de como o destino te apunhalou. Noite que, repugnantemente, seria teu último destino. Mas não, estás aqui, carregas no corpo incontáveis intervenções cirúrgicas e uma infinidade de obstáculos que acordam contigo todos os dias.

No hospital, lugar repleto de sangue derramado, encontro-te num quarto que não o teu, numa cama que não a tua, num espaço a que não devias pertencer. Mas a tua presença acaba sempre por se manifestar e o silêncio apodera-se dos corredores, dos quartos, das paredes, do edifício...e o mundo limita-se a existir.
Guerreiro, mas que luta gigante, que cinco anos tão corajosos. És-me folha de papel onde escrevo a fé que em mim tenta prevalecer.

É tudo tão injusto. Tenho tantas, mas tantas, saudades tuas.

Gonçalo, guerreiro. À vida da tua vida, à vida em que respiro na esperança de te ver testemunhar minhas palavras.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Anoiteceu de novo

Ao nada. Para nada. De nada. Ao nada de tudo aquilo que se me mordia como se de autofagia se tratasse. A tudo o que, dentro de mim, se afogou e outrora se afogara nas mesmas águas.

Não eram monstros da noite, debaixo da cama. Eram monstros, mas dentro de mim, tão penetrados que me fazia pensar que o monstro em si era eu.

E vieste. Entraste na minha vida. Uma luz viva que me rejuvenesceu, luz que dava de respirar às flores que de si dependiam e se embebiam para crescer pelas paredes acima. Paredes, alma; flores, vida; luz, tu.

E que medo atroz que se apodera de mim agora. Medo que rasga, fere, mói, mas não mata. Medo que rouba um pouco de luz, que me deixa uns feixes desta para que as flores não morram mas também não respirem o suficiente, para que o amor de trepar as paredes não perdure.

Obrigado por toda a luz, amor. Mas está a ficar escuro. E quase, sem conseguir, imploro que fiques. Implorar é falso e desonesto, é luz artificial que ressuscita sem nunca abandonar a escuridão.

Por amar tanto a claridade, vivi sob o medo de a perder. E vendei-me com medo que ela fosse embora, como se fosse bom demais, nunca acreditando no que me caía aos pés.
E agora vivo na realidade atroz de que não me elucidas mais porque, afinal, fui eu que coloquei a venda, fui eu quem mergulhou no poço fundo cuja superfície irradiavas.

E, por introspeção, por realizar que a luz fora só minha, que me faria crescer para sempre, tirei a venda. Mas amor, agora está de noite. Está escuro, o frio corre-me pela espinha como uma besta enfurecida e quebra, como gelo, o que tu amorneceste. Foste embora. E não te julgo, não existiam braços que te permitissem brilhar. Tentaste tanto, mas tanto, ceder e mergulhar pelo tecido para retirares a venda que me desabraçava de ti...

Amor.
As flores não crescem mais. As paredes estão despidas. Está frio, anoiteceu tão rápido.


Amo-te.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Desculpa

Vais embora. Uma mensagem de boa noite que sabe a pouco. E venho aqui, escrever, transmitir palavras que não me dizem nada. Palavras simples de sentido nenhum. E o amor também devia ser simples, eu, tu o mundo. Simples.
O passado insiste persistir e perpetua-se ao do que da memória respira no eterno longínquo. O nosso eterno, mas longe.
Perdi-te, porque me perdi, e não posso devolver-te nada do que te dei sem oferecer resistência.
Desculpa.
Pedirei eternamente que me desculpes. Mas já não te quero contida na alma que te quis incondicionalmente. Doeu, é passado, mas fere presentemente; mas ainda vivo por ti.

Nada será vivido com outro ser, nada será tão bom, mas nada repetir-se-à. Permaneço preso a um passado que me acorrenta. É isso, acorrentado, encurralado. O passado entre uma vida contigo.

Amo-te. Desculpa.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Foste embora, mas estás aqui

Partiste, apenas por umas meras centenas de quilômetros, mas estás aqui. Esqueço o telemóvel, por onde me é possível falar-te, mas ele toca e grita por ti. Não esqueci.
Ainda durmo com a tua almofada ao meu lado, ainda que não a vás ocupar em breve. Ainda não te perdi o cheiro de todas as tardes de verão que ocupaste, que preencheste.
Mudei o quarto: a cama, a secretária, o guarda roupa, o mesa de cabeceira. Nada mudou, respiras bruscamente pelas paredes e remetes àquilo que vivemos.


Chego até a sentir-me meio estupido porque me inibes a fala, roubas-me a expressão, a sanidade e desdenhas tudo o que calmo me torna.


Às vezes até que te odeio. Odeio-te por não me completares, mas por me transbordares.
Odeio-te de tanto te amar e sabe tão bem como mal recordar-te nas horas vazias.


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Deixa as metades, faz o que quiseres, MAS AMA

Abandona tudo o que não queres, todas as metades que não desejas.
Ama na íntegra e grita o mundo pelo peito fora. Sai à rua e refaz de maneira diferente. Grita e desdenha, mas ama.
Percute tudo o que guardas dentro de ti e pede a eternidade a quem tenha o mundo para te oferecer, mas ama.
Ama quem partilha as tristezas do mundo, ama quem te faça sentir a única nos 7 bilhões, ama quem seja o chá na constipação de Inverno, ama quem seja a tarde de piscina no calor exuberante de um Verão, ama quem seja o filme, as pipocas, o chocolate quente da tarde mais triste da tua vida, ama quem seja a guloseima irresistível da dieta que começaste no dia anterior, ama hiperbolicamente até que doa. Ama, ama não-metades, ama tudo, com tudo, ama até te sentires embeber na saudade, sequencialmente, incondicionalmente. Ama, comete o erro de ambicionar cegamente.

Ama sem te limitares e assustares. Faz como entenderes, MAS AMA, porque mesmo que um dia acabe na solidão obscura do mundo, sentiste o que meio universo não soube provar.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Veneras em repouso

Percute-me e abandonas o real em sossego. Respiro e pouso. Relembro o sabor insípido de tudo o que beijamos. Relembro o fictício punhal gélido que te coloca em movimento e peço que expurgues o irrevogável traçado na resposta palavreada em que te embalo.
Desdenho e reponho em claro branco e desalmo-me no testemunho em que dificilmente te pronuncias.
Cubro o que de intocável me é e chegas-me sobre eloquência do sensível e restas de um modo que me surpreende.
Pouco me é o que constitui para te conter e vives em inquieto que estronda ao sentir do mundo que morrerá por descobrir. Permito-me reclamar-te de todo o feitio e respiras à beira do que não deteto, do incapaz de influenciar e do que me foge ao toque das mãos. É-me perpétuo a necessidade de conter enquanto ficas, enquanto veneras em repouso.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

À alma não lhe convém o sentido

À alma não lhe convém o passível de ser sentido. Repara e pára, gélida e em sossego. Repensa e respira. Desentranha absolutamente a adrenalina que me corre as veias de todas as formas possíveis de o fazer. Desdenha e repercute-me tudo o que não te é possível transmitir. Pele incapaz de, espiritualmente, me possuir. É estrondo violento que me recorre o passível de ser suportado e decorres no fluxo natural do silêncio que me conduz à introspecção irreparável da suficiência.
Abandonas euforia quando tudo à calma se assemelha e ao pânico que também vem, a calma incapaz és de refutar.
Tenho sentido a decadência que bate à porta no alimento fraco que mascara a impossibilidade pura e diária do enegrecido na podridão virtual da nossa sede.
O universo reduz-me ao segredo complexo do que nunca possuí, testemunho o ínfimo que teima em permanecer-te e que pouco cataboliza no grito que à alma me reclama.
À alma, ao sentido que pouco lhe convém.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Demasiado intimo para se transmitir

É eloquente. Respira, fala, ri e retira-me todo o chão em que me sustenho.
Relembra-me extravagância que me totaliza a adrenalina e diverge do que esperei suportar. Fito-te exigir pelo permanecer mais próprio de ser. Fito-te relatar tudo o que meus ouvidos sedem para ouvir. Espero. Espero e embebo-me na decadência prematura que nunca te viu chegar. Embebo-me na expiração ofegante que te resgata na presença da minha própria palpitação cardíaca.
Fazes com que todas as palavras fujam de mim, palavras demasiado intimas para se transmitirem.

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