segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Anoiteceu de novo

Ao nada. Para nada. De nada. Ao nada de tudo aquilo que se me mordia como se de autofagia se tratasse. A tudo o que, dentro de mim, se afogou e outrora se afogara nas mesmas águas.

Não eram monstros da noite, debaixo da cama. Eram monstros, mas dentro de mim, tão penetrados que me fazia pensar que o monstro em si era eu.

E vieste. Entraste na minha vida. Uma luz viva que me rejuvenesceu, luz que dava de respirar às flores que de si dependiam e se embebiam para crescer pelas paredes acima. Paredes, alma; flores, vida; luz, tu.

E que medo atroz que se apodera de mim agora. Medo que rasga, fere, mói, mas não mata. Medo que rouba um pouco de luz, que me deixa uns feixes desta para que as flores não morram mas também não respirem o suficiente, para que o amor de trepar as paredes não perdure.

Obrigado por toda a luz, amor. Mas está a ficar escuro. E quase, sem conseguir, imploro que fiques. Implorar é falso e desonesto, é luz artificial que ressuscita sem nunca abandonar a escuridão.

Por amar tanto a claridade, vivi sob o medo de a perder. E vendei-me com medo que ela fosse embora, como se fosse bom demais, nunca acreditando no que me caía aos pés.
E agora vivo na realidade atroz de que não me elucidas mais porque, afinal, fui eu que coloquei a venda, fui eu quem mergulhou no poço fundo cuja superfície irradiavas.

E, por introspeção, por realizar que a luz fora só minha, que me faria crescer para sempre, tirei a venda. Mas amor, agora está de noite. Está escuro, o frio corre-me pela espinha como uma besta enfurecida e quebra, como gelo, o que tu amorneceste. Foste embora. E não te julgo, não existiam braços que te permitissem brilhar. Tentaste tanto, mas tanto, ceder e mergulhar pelo tecido para retirares a venda que me desabraçava de ti...

Amor.
As flores não crescem mais. As paredes estão despidas. Está frio, anoiteceu tão rápido.


Amo-te.

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