quinta-feira, 1 de setembro de 2016

5 anos, mas foi ontem

Ainda não acredito. Não há espaço para que tanta saudade me habite.
Sinto-te na falta do que estes cinco anos não te devolveram, sinto-te na realidade obscura que todos os dias tenta tirar um pouco de ti e que ao longo de cinco lentos e desgastantes anos ainda não te roubou a luz. Porque ainda brilhas, guerreiro.

1 de Setembro de 2011. Pouco depois da meia-noite. "O Gonçalo teve um acidente". A dita noticia percorreu-me o corpo como uma besta furiosa, como se enfraquecesse a luz do dia e desacelerasse o sangue que nas veias me corre.

O mundo caiu-te em cima, o chão fugiu-me e eu corri para lado nenhum. Cinco anos que te abrigam numa realidade fria e estupidamente cruel que se reduz a pedidos de ajuda e a gritos de desespero. 
Que melancolia atroz que se manifesta no quarto onde adormeço, tantas memórias que se fazem lembrar no silêncio ensurdecedor da noite, no assobio arrepiante do vento que, por tudo, sabe a pouco. Sinto-te na pele o frio torturante daquela noite, a forma desastrosa de como o destino te apunhalou. Noite que, repugnantemente, seria teu último destino. Mas não, estás aqui, carregas no corpo incontáveis intervenções cirúrgicas e uma infinidade de obstáculos que acordam contigo todos os dias.

No hospital, lugar repleto de sangue derramado, encontro-te num quarto que não o teu, numa cama que não a tua, num espaço a que não devias pertencer. Mas a tua presença acaba sempre por se manifestar e o silêncio apodera-se dos corredores, dos quartos, das paredes, do edifício...e o mundo limita-se a existir.
Guerreiro, mas que luta gigante, que cinco anos tão corajosos. És-me folha de papel onde escrevo a fé que em mim tenta prevalecer.

É tudo tão injusto. Tenho tantas, mas tantas, saudades tuas.

Gonçalo, guerreiro. À vida da tua vida, à vida em que respiro na esperança de te ver testemunhar minhas palavras.

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